sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

"Il me semble que la recherche de l'harmonie est la plue belle passion humaine"

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O fio da meada

Perguntaram-me sobre a poética de Lisboa e sobre as jovens promessas da poesia em Portugal.
São obviamente perguntas distintas, mas a resposta parece-me tão intimamente ligada que não consigo responder a uma sem recorrer à outra.

Nasci na Mouraria e passo o dia “debruçada sobre o Tejo”. A influência de Lisboa na minha vida é incontornável e, na verdade sinto-me muito afortunada pois considero que a herança cultural desta cidade é uma bênção que me oferece uma possibilidade de crescimento muito superior às minhas capacidades. No entanto, não me reconheço na cidade do Fado, na cidade que cheira a peixe, na cidade dos pregões e dos santos populares. Infelizmente (pelo menos para mim), essa Lisboa é uma cidade de páginas já desfolhadas, de turistas breves, dos restaurantes típicos, do artesanato com detalhes de PVC e de todo o resto “made in China” ou em “Taiwan”: Acho que todas as cidades europeias mais turísticas, de uma forma ou de outra, têm estes denominadores comuns – nunca vivi noutra cidade e portanto, de todas as minhas viagens sempre breves, nunca fui mais do que uma simples “voyer”.
Sobre a poesia, entendo-a como se fosse um quadro, na medida em que é um reflexo do interior (do “eu”). Deste modo perturba-me a poesia como se fosse um fado. A poesia da saudade do mar, da sardinha assada, das ruas e vielas da cidade. Perturba-me a poesia com a etiqueta do retrato pitoresco, perturba-me a poesia do bilhete-postal. Há (do meu ponto de vista), um fenómeno intrigante na poesia casual (ou casuística!): Parece que o poema lisboeta retoma na ressaca da tertúlia da noite anterior, sempre com cheiro das cigarrilhas dos intelectuais noctívagos, inacessíveis e de partida para o exílio numa cidade muito melhor (também revejo este critério na “alma” do fado de Lisboa).

Reencontrei-me (muito recentemente), com a obra do poeta Manuel de Freitas, reconheço-me por entre as linhas da sua poesia, da Lisboa que ele descreve – mas, é um reconhecimento que me chegou pela releitura (passados sensivelmente dois anos de ter lido as suas primeiras publicações). Há bastante mais para além da Lisboa das ruelas pitorescas que descem até ao Tejo – leio agora para além do “efeito banal de jogar com o trivial e com o prosaico” (1) e só desejo, acordar um dia para reler a cidade… e ganhar outras impressões, mais emotivas, sobre as ruas por onde passo.

(1) Artigo de opinião no Expresso (de algumas semanas atrás - lamentavelmente não me recordo do nome de quem o escreveu), sobre o lançamento dos livros “Jukebox2” e “Boa Morte” classificando-as como obras de viragem – que também ainda não li.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Cidades de sítio nenhum

Regresso às palavras como se regressasse a casa. Apetece-me tanto o Inverno assim! Recolho-me em livros recentes e viajo por memórias e romances que me levam a cidades de sítio nenhum.
As cidades de sítio nenhum, são cidades à beira de um qualquer rio, a partir do qual se vão alastrando aleatoriamente ao longo do enredo da história como se fossem tentáculos.
Nestas cidades imaginárias, pouco importa a arquitectura, o plano principal não se eleva para além dos passeios onde os corpos quase se tocam. As ruas são tão tortuosas e estreitas (ou direitas e largas) como os indivíduos que vamos conhecendo linha após linha e, a morfologia da cidade de sítio nenhum, é tão plástica como a construção ficcional que nos envolve. Tem rotinas, tem dia, noite, luzes, estrelas, vento. Tem planeamento, como outra cidade qualquer. Mas esta, pulsa no silênio.