segunda-feira, 9 de março de 2009

Jane Jacobs (1916-2006)

















"Being human is itself difficult, and therefore all kinds of settlements (except dream cities) have problems. Big cities have difficulties in abundance, because they have people in abundance. But vital cities are not helpless to combat even the most difficult problems." (1)



Calculo que a forma despretensiosa com que caracteriza a Política Urbana do séc. XX, como sendo “Intelectualmente Arrogante”, tenha sido a “pedra de toque” para as profundas críticas que desde então a sua vida e obra têm recebido. No sentido da crítica, pela crítica, as opiniões adversas ao seu trabalho são profundas manifestações políticas sobretudo ao seu activismo. Na verdade, Jane construiu um império concreto e detalhado, coerente e profundamente sensível às diversas temáticas das cidades – a relação dos pormenores com a rua, da rua com o bairro, dos bairros entre si, dos bairros com a cidade. Etc. – Sempre com uma análise diametral aos indicadores socioeconómicos, históricos, demográficos e antropológicos sobre os quais define e sustenta os princípios da diversidade como unidade elementar para a vitalidade das cidades.
"The Death and Life of Great American Cities" é a obra mais imponente desta escritora que dedica cerca de 40 anos da sua vida ao planemento urbano. A sua obra literária é profundamente influenciada pela nova geração de urbanistas e activistas, emergindo sobre as políticas de renovação urbana que se estabeleceram na década de 50.

referências Biográficas e Bibliográficas

domingo, 8 de março de 2009

A teoria das decisões à escala da sua análise

“A teoria das decisões olha o mundo como algo essencialmente fechado, permanente e previsível. O seu modelo é um jogo, no qual as regras são fixas e os resultados são finitos. Neste modelo, os únicos problemas são o nosso conhecimento imperfeito e seus resultados, os valores possíveis e a nossa capacidade para considerar alternativas múltiplas. As alternativas criam-se fora do jogo. Uma boa decisão é aquela que resulta “correcta”e que se alcança com um consumo mínimo de tempo e esforço.

”Lynch, Kevin. In “De que tempo é este lugar?”
Título original: "What time is this place?"

As observações resultantes deste excerto parecem demasiado óbvias. O sujeito quando projecta o futuro, não se desvincula das condições em que vive e o mundo em si, não é fechado nem perfeitamente previsível. Todo o texto de K. Lynch sublinha não só as falácias do planeamento urbano como também a incapacidade intelectual do homem como “unidade individual” para o fazer. Deste livro de 1972 - capítulo após capítulo - mas afinal qual é a “magia” que há nos ensinamentos de Lynch? Creio que Lynch vê a cidade à escala de um homem só. Para lá da sociologia e antropologia urbana, totalmente esquecidas nesta profunda análise sobre a cidade, o que Lynch nos trás é uma visão crítica, sensível e profundamente humanizada da arquitectura e do urbanismo, mas sempre à escala da sua maior crítica: a escala do indivíduo.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Metamorfose

“(…) Vi transformar-se em mar o que noutros tempos tinha sido terra compacta; vi terras saídas do mar e, longe da costa dormem conchas marinhas e até apareceu uma antiga âncora em cima de montes.O que foi campo, uma inundação o transformou em vale, e a força de uma torrente arrastou uma montanha até se tornar plana; uma terra pantanosa se mostra agora de areia seca, e as que padeciam de sede, agora desfrutam da humidade das lagoas. Tudo o que existe debaixo do céu e tudo o que há sobre a terra, mudou de forma. “
Ovidio in "Metamorfose" Livro XV

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

"Il me semble que la recherche de l'harmonie est la plue belle passion humaine"

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O fio da meada

Perguntaram-me sobre a poética de Lisboa e sobre as jovens promessas da poesia em Portugal.
São obviamente perguntas distintas, mas a resposta parece-me tão intimamente ligada que não consigo responder a uma sem recorrer à outra.

Nasci na Mouraria e passo o dia “debruçada sobre o Tejo”. A influência de Lisboa na minha vida é incontornável e, na verdade sinto-me muito afortunada pois considero que a herança cultural desta cidade é uma bênção que me oferece uma possibilidade de crescimento muito superior às minhas capacidades. No entanto, não me reconheço na cidade do Fado, na cidade que cheira a peixe, na cidade dos pregões e dos santos populares. Infelizmente (pelo menos para mim), essa Lisboa é uma cidade de páginas já desfolhadas, de turistas breves, dos restaurantes típicos, do artesanato com detalhes de PVC e de todo o resto “made in China” ou em “Taiwan”: Acho que todas as cidades europeias mais turísticas, de uma forma ou de outra, têm estes denominadores comuns – nunca vivi noutra cidade e portanto, de todas as minhas viagens sempre breves, nunca fui mais do que uma simples “voyer”.
Sobre a poesia, entendo-a como se fosse um quadro, na medida em que é um reflexo do interior (do “eu”). Deste modo perturba-me a poesia como se fosse um fado. A poesia da saudade do mar, da sardinha assada, das ruas e vielas da cidade. Perturba-me a poesia com a etiqueta do retrato pitoresco, perturba-me a poesia do bilhete-postal. Há (do meu ponto de vista), um fenómeno intrigante na poesia casual (ou casuística!): Parece que o poema lisboeta retoma na ressaca da tertúlia da noite anterior, sempre com cheiro das cigarrilhas dos intelectuais noctívagos, inacessíveis e de partida para o exílio numa cidade muito melhor (também revejo este critério na “alma” do fado de Lisboa).

Reencontrei-me (muito recentemente), com a obra do poeta Manuel de Freitas, reconheço-me por entre as linhas da sua poesia, da Lisboa que ele descreve – mas, é um reconhecimento que me chegou pela releitura (passados sensivelmente dois anos de ter lido as suas primeiras publicações). Há bastante mais para além da Lisboa das ruelas pitorescas que descem até ao Tejo – leio agora para além do “efeito banal de jogar com o trivial e com o prosaico” (1) e só desejo, acordar um dia para reler a cidade… e ganhar outras impressões, mais emotivas, sobre as ruas por onde passo.

(1) Artigo de opinião no Expresso (de algumas semanas atrás - lamentavelmente não me recordo do nome de quem o escreveu), sobre o lançamento dos livros “Jukebox2” e “Boa Morte” classificando-as como obras de viragem – que também ainda não li.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Cidades de sítio nenhum

Regresso às palavras como se regressasse a casa. Apetece-me tanto o Inverno assim! Recolho-me em livros recentes e viajo por memórias e romances que me levam a cidades de sítio nenhum.
As cidades de sítio nenhum, são cidades à beira de um qualquer rio, a partir do qual se vão alastrando aleatoriamente ao longo do enredo da história como se fossem tentáculos.
Nestas cidades imaginárias, pouco importa a arquitectura, o plano principal não se eleva para além dos passeios onde os corpos quase se tocam. As ruas são tão tortuosas e estreitas (ou direitas e largas) como os indivíduos que vamos conhecendo linha após linha e, a morfologia da cidade de sítio nenhum, é tão plástica como a construção ficcional que nos envolve. Tem rotinas, tem dia, noite, luzes, estrelas, vento. Tem planeamento, como outra cidade qualquer. Mas esta, pulsa no silênio.